1. VOCAÇÃO DE PAULO
São três elementos que caracterizam a vocação no Novo Testamento:
- Encontro
- Chamado
- Reação
Jesus caminha à beira do Mar da Galiléia e vê Simão e o irmão deste, André, e, em seguida, os filhos de Zebedeu, Tiago e João. (Mc 1,16-20). Há um encontro, um chamado e uma reação ao chamado. O encontro se dá no contexto corriqueiro do dia-a-dia, em meio aos árduos trabalhos da pesca. Ao responder ao chamado de Jesus, deixaram tudo e o seguiram. O ENCONTRO COM JESUS foi tão profundo que deixaram a família, a segurança por um futuro incerto. Onde e quando terminará este caminho? Não o sabem. Estão apenas no começo, mas já sentem no fundo da alma que não haverá mais volta.
Na vocação de Saulo há os mesmos três elementos: o encontro, o chamado e a reação ao chamado, embora em circunstâncias bem diferentes. Em Atos 9,1-22, encontramos a vocação de Paulo. Jesus entra na vida de Saulo e o derruba, faz com que caísse por terra. Jesus o agarrou, o cativou, dominou, conquistou (Fl. 3,12). Não foi uma idéia, uma visão atualizada da conjuntura, uma nova compreensão da história, um estudo bíblico, que o levaram a abandonar o velho caminho e mudar de rumo na direção oposta. "Alguém" entrou em sua vida e causou um verdadeiro terremoto na sua existência. É uma pessoa que o chamou. O Documento de Aparecida n° 12 diz o seguinte: "A todos nos toca recomeçar a partir de Cristo, reconhecendo que não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva".
A luz que envolveu Paulo naquele meio-dia diante dos muros de Damasco, impregnou de modo indelével o sinal da presença do Cristo glorioso. Doravante dará testemunho do Senhor "Como se visse o Invisível" (Hebreus 11,27). Jamais esquecerá a hora de Damasco como João nunca esqueceu a hora em que pela primeira vez encontrou o Mestre. (Jo 1,39)
Santo Agostinho descreve a profundidade desse ENCONTRO: "Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu, fora. E aí te procurava e lançava-me, nada belo, ante a beleza que tu criaste. Estavas comigo e eu não contigo. Seguravam-me longe de ti as coisas que não existiriam, se não existissem em ti. Chamaste, clamaste e rompeste a minha surdez, brilhaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume e respirei. Agora anelo por ti. Provei-te e tenho fome e sede. Tocaste-me e ardi por tua paz".
A chave para compreendermos com que força o chamado do Senhor transformou a vida de Saulo está em 1Cor 9,16 "Evangelizar não é título de glória para mim, é, antes, uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não evangelizar".
Paulo fala de sua missão de apóstolo como uma experiência de conversão, entrega total ao Senhor. Nada no mundo poderá separá-lo do Senhor. (Rm 8,35). Quem bebeu desta fonte, mergulhou neste amor jamais será o mesmo. "Tudo que para mi era lucro, tive-o como perda, por amor de Cristo" (Fl. 3,7). Esta é a mística da VOCAÇÃO de Paulo e não existe outra MÍSTICA a não ser esta que é capaz de motivar e sustentar a vocação do discípulo, do missionário, da missionária. "Por Ele, perdi tudo" (Fl. 3,8). Esta é a verdadeira e única base de toda vocação: "Por Ele", esta é sua mística e motivação existencial. Não tem como deixar este caminho, deixar de anunciar o evangelho, como diz a canção: "Tenho que gritar, tenho que arriscar, ai de mim se não o faço. Como calar se tua voz arde em meu peito". Paulo não consegue mais viver sem fazer de sua vida um ardoroso anúncio do Evangelho, um testemunho de sua fé, esperança e caridade. É impossível deixar de bradar pelo mundo afora, nas praças e nas ruas, nos lares e nas igrejas, de dia e de noite, que "Jesus Cristo é o SENHOR, para a glória de Deus Pai .” (Fl. 2,11).