quinta-feira, 6 de março de 2014

CATEQUISTA EM FORMAÇÃO

Em 1964, parte significativa dos bispos brasileiros, em sintonia com os ventos renovadores que vinham do Concílio, queriam aproveitar o momento rico do Tempo da Quaresma, tempo de conversão e penitência, para convocar os católicos a participarem de uma reflexão que começava por rever e atualizar os próprios conceitos de Conversão e Penitência, até então muito ligados à ideia de sacrifícios físicos e mortificação dos sentidos.




A catequese quaresmal tradicional corria o risco de valorizar mais a exterioridade das celebrações pomposas, da ritualização de tradições e costumes, em especial da Paixão, que o chamado pascal mais profundo, questionador e transformador, rito de passagem para uma Vida Nova.

Ainda hoje, na cobertura que se vê na grande mídia, o destaque é dado a eventos como a Procissão do Fogaréu, em Goiás, a encenação da Paixão ao vivo, em Nova Jerusalém, Pernambuco e outros de conteúdo mais turístico que religioso.

Nesse contexto histórico e cultural, a Campanha da Fraternidade surge como um convite a refletir sobre o sentido de uma verdadeira conversão, que se traduz em mudança de rumo na vida pessoal e comunitária, e do significado vivencial da penitência, umchamado a voltar-se para Deus, buscando “amá-lo de todo coração e de toda a alma e de todo o entendimento e de todas as forças; e amar ao próximo como a si mesmo” (Marcos 12:30-31), sempre a partir de um tema específico, enraizado na realidade, e renovado a cada ano.

Em 1964, significativamente, o tema foi “Igreja em renovação” com o lema: “Lembre-se, você também é Igreja.”
Através dele, retomava-se, bem dentro do espírito do Vaticano II, o significado maior da expressão “Povo de Deus”. A Igreja, sublinhavam os bispos conciliares, não é apenas uma instituição constituída por padres, freiras, religiosos e religiosas, clérigos em geral. É Povo de Deus em comunhão,ou seja, o leigo cristão era chamado a ocupar o lugar que sempre foi dele. Em síntese: não bastava mais ao cristão IR À IGREJA. O convite, a missão, é SER IGREJA!
Desde então, a cada ano, temas ligados à realidade mais cotidiana, desafios em todas as áreas, questões de cidadania, contradições políticas e econômicas, tudo tem sido ponto de partida para um VER, JULGAR e AGIR dos cristãos.
Durante a Quaresma, somos, portanto, convidados a fazer essa experiência de “recolhimento”, de “deserto”, em que, pelo jejum (simplicidade) e oração (vida interior), buscamos conversão (mudança de rumo, renovação) e penitência (buscar a intimidade com Deus). E como o encontro íntimo e pessoal com Deus acontece no cotidiano, a Igreja, a cada ano, propõe que a vivência quaresmal se traduza também em esmola (gestos concretos de fraternidade e solidariedade, em especial com os mais necessitados). Tudo a partir de um tema concreto, enraizado no cotidiano, que nos ajude a buscar uma coerência sempre maior entre fé e vida.

Ao fim dessa caminhada de quarenta dias, chegamos à Semana Santa, cujo auge é a celebração pascal do Cristo Vivo, presente no meio de nós. Ele nos convida a passar do túmulo à alegria, da morte à vida, do egoísmo ao amor, do pecado à santidade. Passar de uma fé amedrontada para uma fé esperançosa.

A mística pascal nos revela que o contrário do amor não é o ódio, o contrário do amor é o medo de amar. Por isso, para viver a Páscoa, é preciso coragem e disposição para experimentar no coração as virtudes teologais da Fé e da Esperança, que nos conduzem à possibilidade do Amor, do amar e ser amado.

Trecho do texto de Eduardo Machado-Escritor e coordenador de Pastoral do Colégio Imaculada em Belo Horizonte

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