segunda-feira, 5 de março de 2012

Ofício Divino na Catequese




 O ofício Divino é uma herança dos judeus muito bem acolhida pelos cristãos desde o início do Cristianismo. É o método privilegiado de oração dos padres e religiosos desde muito tempo e, após um impulso do Concílio Vaticano II, também muitos leigos, individualmente ou em comunidade, encontraram nele um jeito muito especial de fazer suas orações.

1.    O que é “Ofício Divino”
 

    Os judeus costumavam fazer a memória do Deus criador e libertador, cantando os Salmos, em algumas horas fixas do dia. Desse modo, renovavam sua fidelidade ao Deus da Aliança e ofereciam a Ele toda a sua vida.  O Salmo 55 faz uma referência clara a esse costume: “De manhã, de noite e ao meio dia oro ao Senhor minha lamentação e Ele escuta a minha voz”(55,17).
    Jesus, como judeu fiel às tradições do seu povo, conheceu esse costume de orar três vezes ao dia e, certamente, o realizou com muita alegria. Inclusive, recomendou aos discípulos que rezassem permanentemente (cf. Lc 18,1;21.36). Por isso, podemos dizer que essa oração do povo de Deus é a oração do próprio Jesus Cristo, ao qual as primeiras comunidades seguiram fielmente.
    O Ofício Divino é mais conhecido como Liturgia das Horas, porque é rezado em determinadas horas do dia, com a finalidade de santificá-lo e consagrar o tempo a Deus, numa total disposição para realizar a sua vontade. Cada dia é visto como uma bênção especial de Deus, e precisa ser bem vivido, numa dimensão de louvor e gratidão. Por isso, pedimos sempre ao Senhor:” ensinai-nos a bem contar nossos dias, para que tenhamos um coração sábio” (Sl 90, 12).
    O nome “Ofício Divino” surgiu num período da história da Igreja em que ao povo já ficava difícil parar com as suas atividades tantas vezes ao dia, para a oração comunitária (em alguns lugares tornou-se costume rezar até seis vezes ao dia!). A oração da Liturgia das Horas foi ficando restrita aos monges e padres, como um ministério (daí a expressão “ofício”) de orar em nome de toda a Igreja, para que o louvor de Deus não parasse no tempo. Se, por um lado, essa maneira especial de rezar foi se estruturando, se organizando melhor, por outro lado, o povo foi se distanciando desse bonito costume.
A reforma do Concílio Vaticano II insistiu no resgate da Liturgia das Horas (cf SC 83-101), sobretudo com a intenção de devolver ao povo essa tradição tão especial que lhe pertencia como oração de todos os fiéis, e não somente do clero ou dos religiosos.
 No Brasil, o Ofício Divino das Comunidades surgiu como uma maneira criativa, simples e bem inculturada de rezar a Liturgia das Horas. As experiências crescentes das comunidades espalhadas pelo país afora têm legitimado a sua prática e ajudado muito na divulgação desse método importante de oração. Quando as comunidades entoam os salmos, escutam a Palavra e a confrontam com os fatos da vida, meditam e oram – sobretudo em pequenos grupos – elas alimentam sua fé e se encorajam para o testemunho do projeto libertador de Jesus.
Na catequese, o Ofício Divino também tem seu lugar. Pode ser uma importante “escola de oração”, pois, enquanto se celebra o Ofício com as crianças, ao mesmo tempo em que rezam, elas também aprendem um método eficaz e prazeroso de falar com Deus e experimentar a presença amorosa d’Ele em suas vidas.



2. Ofício Divino na catequese: iniciação aos sinais sagrados

Além do Oficio Divino das Comunidades e da tradução oficial da Liturgia das Horas, também há, no Brasil, o Ofício da Juventude e Ofício das Crianças. São tentativas bem sucedidas de estender a riqueza da Liturgia das Horas a grupos específicos, com linguagem e estruturas adaptadas às suas diversas realidades.
O que apresentaremos nesse capítulo faz parte de experiências feitas por algumas comunidades catequéticas, que têm rezado com os catequizandos a partir do esquema básico do Ofício Divino, suprimindo ocasionalmente alguma parte dele, mas com uma intenção precisa de ajudá-los na assimilação teórica e prática da simbologia litúrgica. Ao mesmo tempo em que a criança exercita o método proposto pelo Ofício, aprende o sentido dos sinais sagrados que são mais comuns nas celebrações litúrgicas, sobretudo da Missa.
As orações acontecem de acordo com a programação de cada comunidade, semanalmente ou em ocasiões especiais. Em alguns lugares, pelo menos uma vez ao mês, todas as crianças deixam o encontro costumeiro da catequese para um momento celebrativo, tendo como roteiro o Ofício Divino. Catequistas, crianças e pais se encontram para, juntos, celebrar a caminhada, ouvir a Palavra de Deus, cantar os Salmos e aprender, rezando.


3.    Elementos básicos do Ofício Divino na Catequese
A estrutura do Ofício Divino rezado na catequese praticamente segue o esquema do Ofício Divino das Comunidades. Algumas partes são abreviadas ou suprimidas, sem prejuízo para o método celebrativo. Outros elementos são acrescentados, sobretudo a explicação catequética e a vivência simbólica.

1.1.    Preparação: O ambiente seja devidamente preparado, de modo acolhedor e convidativo à oração. Haja um lugar especial para a Bíblia (pode ser uma estante ou pano decorativo). Folhas de canto, símbolos e outros materiais devem ser providenciados com antecedência e com muito carinho.

1.2.    Mantra: é um refrão meditativo, a ser cantado repetidamente, o que auxilia bastante na criação de um clima tranqüilo e sereno, sobretudo interior. São João Crisóstomo já dizia: “não se põe incenso em carvão apagado”.

1.3.    Abertura: consta de versos que são entoados por um solista e repetido pela assembléia orante. Quase sempre são tirados de textos bíblicos ou inspirados neles. No Ofício Catequético, os versos da abertura fazem referência ao tema e símbolo litúrgico escolhido para aquele momento celebrativo.

1.4.    Recordação da vida: os fatos e acontecimentos do dia-a-dia, desde aqueles mais próximos da realidade dos catequizandos (família, bairro, cidade) até os mais distantes, são evocados para que a vida concreta seja rezada, celebrada. São recordados acontecimentos bons e ruins, sinais de alegria e também de tristeza. Afinal, tudo é vida, tudo é conteúdo de oração.

1.5.    Salmo: elemento essencial do Ofício, um salmo é sempre cantado. De acordo com a possibilidade da assembléia, seja cantado por todos, de preferência em dois coros; outro modo de rezar o salmo é respondendo a um refrão, entre estrofes entoadas por um solista. O salmo também é escolhido de acordo com o tema do dia. O Ofício das Comunidades traz versões bem populares e práticas para a celebração. De acordo com a idade das crianças, preferência seja dada a salmos simplificados, com poucas estrofes e com palavras bem compreensíveis.

1.6.    Texto bíblico: seguindo o tema proposto para a celebração, um texto bíblico é escolhido e solenemente proclamado. Pode ser precedido por um canto de escuta e aconselha-se que sempre seja seguido de um tempo de silêncio, partilha ou brevíssima reflexão.

1.7.    Reflexão catequética: para a profundar o sentido do tema escolhido, aqui é o momento apropriado para um comentário sobre o símbolo litúrgico. Essa reflexão visa a ajudar os catequizandos na compreensão simbólica, o que facilitará imensamente posteriores experiências com esse símbolo, sobretudo na Missa.

1.8.    Prece, louvor, ação de graças: nesse momento, o grupo é convidado a fazer eco da Palavra e do tema já desenvolvido desde o início da celebração, fazendo orações espontâneas ou previamente preparadas. É interessante concluir esse momento de oração com a o oração por excelência, o Pai-Nosso. Bem motivado, esse momento acontece de modo muito bonito, pois as crianças sabem ser muito sinceras e espontâneas!

1.9.    Oração final e conclusão: uma breve oração e o pedido das bênçãos de Deus encerram o Oficio catequético.
(Texto do livro “Catequese e Liturgia: duas faces do mesmo Mistério” do Pe. Vanildo de Paiva-Pauluis.2008)

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