O convite diante da importância das histórias contadas é buscar as narrativas fundantes do ser humano. A Bíblia nos apresenta, desde Gênesis a Apocalipse, narrativas que desconstroem valores comodistas e constroem novos olhares e sentidos sobre o mundo e Deus. A Bíblia fala em narrativas porque as vidas se compõem de histórias e fatos que podem ser narrados. É por esse motivo que a Palavra de Deus, com toda a sua expressividade, encontra profunda ressonância na vida e na catequese.
Os autores bíblicos foram fascinantes narradores. Inspirados por Deus, contaram a história do povo de Israel evidenciando sempre o Amor de Deus, capaz até de descer e libertar seu povo da opressão egípcia. Com grande aptidão, em todo Antigo Testamento esses autores narraram não só a história da escravidão do Egito, transcenderam esse fato para outros contextos. A libertação, sempre celebrada como evento fundante na Aliança, foi o fato histórico mais importante para o povo, de modo que, em qualquer lugar e sob as mais duras condições de opressão, o povo se lembrava dele e reacendia sua confiança em Iahweh.
Mais tarde, os autores bíblicos do Novo Testamento. Vão reler o Antigo Testamento à luz da pessoa de Jesus Cristo. Os Evangelhos são narrativas catequéticas que brotaram do seio das comunidades ao compreenderem que em Jesus, Deus se revela plenamente. E mais: Jesus Cristo não só revela quem é Deus, mas revela que o ser humano é capaz de Deus. Ao ler estas narrativas percebemos que nenhum autor diz de imediato quem é Deus e quem é Jesus. As narrativas cuidam para apresentar uma vida de doação, de acolhida e de obediência filial.
É por esse motivo que narrar o texto bíblico é o ponto central dos encontros de catequese. Porém, a catequese envolverá os catequizandos de fato, se for profundamente cristológica, como nos lembra a “Catechese Tradendae” (CT. 6). É em Jesus Cristo que veremos o rosto de Deus como Pai que ama e, ao mesmo tempo, descobrir a face do ser humano que insistentemente busca sentido e valores para sua existência. Mais que um ser de busca, Jesus mostra o ser humano aberto a Deus e ao seu projeto a partir de fatos concretos da vida, do contexto onde os pés se firmam.
É na narratividade que a Bíblia encontra sua maior importância. A narrativa cerca, envolve, penetra nas dobras mais escondidas de nosso ser. A Bíblia se torna viva na forma em que se expressa, com diversas situações que manifestam a indispensável interação entre fé e vida.
Helia Carla de Paula Santos
Equipe do Instituto Regional de Pastoral Catequética -IRPAC
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