Quem nunca se
perguntou sobre o sofrimento no mundo? Por que pessoas morrem de fome,
vítimas da guerra e da violência? Por que algumas crianças morrem
doentes? Por que existem tantos sofrimentos sem razão?
É comum a
incompreensão sobre a dor: “Sou fiel a Deus, procuro fazer o meu melhor,
mas agora estou sofrendo. Por quê?” A resposta mais adequada é: “Por
que Ele?” Por que o homem mais santo do mundo foi crucificado? Por que o
próprio Deus, que só fez o bem às pessoas, foi condenado a morte por
aqueles que entendiam de Escritura, de lei de Deus...? Por que Ele não
desceu da cruz?
Cristo morreu
porque quis assumir a nossa vida, mesmo na dor. Por que também Ele está
no mundo imperfeito e limitado onde cabe a dor, o sangue, a lágrima. Não
queremos a dor, mas esquecemos de que não somos deuses, somos humanos, e
mesmo um Deus humano, morreu. Vivemos no mundo ainda limitado que geme e
chora, esperando o dia de sua redenção. Não estamos ainda na plenitude
do Reino, ainda nos resta a contingência da vida. O Senhor assumiu a
realidade de dor que é inerente à experiência humana.
Cristo morreu
para ser solidário com todos que sofrem. Ele não é um sacerdote incapaz
de se compadecer de nossa dor, mas experimentado no sofrimento, pode
oferecer consolo e cura a todos que sofrem (2ª. Leitura). Deus não tira
toda dor do mundo por mágica, mas assume a dor do mundo, mostrando-nos
que é parte da existência e que ele pode sofrer conosco: nossa tristeza,
nossa doença, nossa angústia e nossa morte. Na vigília pascal veremos
que o sofrimento não é a última palavra da existência, pois a vida será a
última palavra.
Cristo morreu
como consequência de sua opção pelo Reino do Pai. Não é inteligente
desejar o sofrimento. Temer lutar contra o sofrimento sinal de fraqueza.
Mas, sofrer as consequências de uma opção de vida (pela verdade,
justiça, pelo bem dos seres humanos, por sua família) é assumir uma dor
redentora. Jesus, que não era masoquista, aceitou a vontade do Pai
(Faça-se a tua vontade!): não aceitou morrer por morrer, mas aceitou não
fugir diante de suas opções: amar a todos, oferecer-se por todos,
proclamar a verdade sem medo das consequências. O resultado foi sua
morte: um dom que deu tudo, até a última gota. Uma dor do extremo
abandono...
Diante da cruz,
há muitas atitudes... Os sacerdotes e mestres da lei o condenaram, o
povo foi omisso, as mulheres choraram, os discípulos fugiram com medo,
Pilatos lavou as mãos, Dimas pediu perdão, o outro ladrão zombou, o
soldado jogou uma lança... Hoje cada um de nós tem uma atitude diante de
Jesus: resignação, tristeza, identificação, pena, amor...
E estamos nós
aqui diante do mistério da cruz... Vamos sair do nosso lugar, vamos
olhar e beijar Aquele que nos amou e nos ama. Pilatos também o olhou,
Judas também o beijou. E agora é nossa vez. O que você vê quando dirige o
seu olhar para aquele que traspassaram? E o que significará mais este
beijo na imagem daquele que derramou o sangue por todos nós?
Assessor da Pastoral catequética da Arquidiocese de Curitiba e Vice-reitor do Seminário Teológico Rainha dos Apóstolos
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